segunda-feira, 2 de março de 2009

Heimweh

Saudade do lar — assim definiu Novalis a Filosofia. Um impulso por se fazer por toda parte em casa — explicou em seguida. É isso: a filosofia exige um quê de estrangeiridade. De Aristóteles a Adorno, passando por Descartes, Spinoza, Hegel e tantos muitos outros, estamos é repleto de histórias de filósofos constrangidos pelos sotaques carregados de suas terras natais, ou obrigados a reencontrar a vida em uma nova cultura. A estrangeiridade da Filosofia não é apenas uma metáfora poderosa, é também um dado histórico, afinal.
Fazer-se em casa por toda parte, primitivo impulso de colonização, tornar o outro parte do mesmo, em uma idéia: dom(us)-esticar. Por essa razão Odisseu é o padroeiro de todos os filósofos, o mais eloqüente ícone disso que é ou foi a Filosofia. O impulso de ir além sendo norteado pela saudade da pátria. Um dia o viajante chega em casa, retorna à mesmidade, mas ele próprio já não é mais totalmente o mesmo, pois se alterou junto à alteridade que domesticou. Seu regresso torna a casa mais rica, repleta de experiências outras que coletou, que iluminam e alteram a mesmidade.
Em contexto totalmente diverso, Goethe disse substancialmente a mesma verdade: aquele que não conhece línguas estrangeiras, não conhece nem mesmo a própria língua. É isso: a estrangeiridade é a mediação necessária, o espelho negativo no qual Calvino disse que o viajante reconhecia o pouco que era seu descobrindo o muito que não tivera e que não teria.

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