sexta-feira, 20 de março de 2009

Provocação

Provoca meus instintos
mais secretos.
À luz do teu olhar,
me perco.
Vejo-me nua em meus pensamentos,
despida de qualquer pudor.
Sinto-me perdida em desejos íntimos.
Encontro-me em arcos
poderosos, que se fecham e me seguram,
e me abraçam.
Estremeço com seu toque
suave.
Grande volúpia!
Perfume embriagador me seduz.
Não resisto:
Eu me entrego e você
me conduz...ao paraíso...

quinta-feira, 19 de março de 2009

Sonho dos Anjos

Enquanto dormimos somos irreais,
Sonhamos com anjos tão enaltecidos
E nossos pesares ficam esquecidos...
Nos sonhos, aos anjos, nós somos iguais.

Sem saber que a nossa vida é nada mais
Do que doces sonhos, um tanto compridos
De anjos solitários já adormecidos,
Sonhando que existe a vida dos mortais.

E vivemos tristes sem saber jamais
Que as mortes são sonhos já interrompidos,
De anjos que acordaram com alguns ruídos
Nas belas manhãs celestes, divinais.

Ó, anjos cruéis, porque vós acordais?
Para dar um fim a humanos tão sofridos?
Sei que vossos sonhos são por nós vividos,
Vosso despertar nos é triste demais!

segunda-feira, 2 de março de 2009

Heimweh

Saudade do lar — assim definiu Novalis a Filosofia. Um impulso por se fazer por toda parte em casa — explicou em seguida. É isso: a filosofia exige um quê de estrangeiridade. De Aristóteles a Adorno, passando por Descartes, Spinoza, Hegel e tantos muitos outros, estamos é repleto de histórias de filósofos constrangidos pelos sotaques carregados de suas terras natais, ou obrigados a reencontrar a vida em uma nova cultura. A estrangeiridade da Filosofia não é apenas uma metáfora poderosa, é também um dado histórico, afinal.
Fazer-se em casa por toda parte, primitivo impulso de colonização, tornar o outro parte do mesmo, em uma idéia: dom(us)-esticar. Por essa razão Odisseu é o padroeiro de todos os filósofos, o mais eloqüente ícone disso que é ou foi a Filosofia. O impulso de ir além sendo norteado pela saudade da pátria. Um dia o viajante chega em casa, retorna à mesmidade, mas ele próprio já não é mais totalmente o mesmo, pois se alterou junto à alteridade que domesticou. Seu regresso torna a casa mais rica, repleta de experiências outras que coletou, que iluminam e alteram a mesmidade.
Em contexto totalmente diverso, Goethe disse substancialmente a mesma verdade: aquele que não conhece línguas estrangeiras, não conhece nem mesmo a própria língua. É isso: a estrangeiridade é a mediação necessária, o espelho negativo no qual Calvino disse que o viajante reconhecia o pouco que era seu descobrindo o muito que não tivera e que não teria.