quarta-feira, 12 de maio de 2010

não podem dizer não para a menina que escala a montanha luzente e majestosa. não podem estorvar sua iniciativa, mandá-la tirar os sapatos de salto lascados e manchados de chuva. seus sonhos sempre a ultrapassam com ferocidade e, para ela, é somente uma aventura tentar alcançá-los. seus olhos estão sempre embaçados e enxergam cores que oscilam ligeiramente, mas sua mente afiada não hesita ao formar figuras indicativas. a chamam para lá e para cá, para lá e para cá. a incerteza de seu percalço a embala e quando dorme com o volume no máximo, sabe que está se aproximando do topo. em breve chegará ao tesouro e abrirá um sorriso, mas sorrisos são feitos só de dentes. quando dançar por horas a fio a deixar entediada e o ônibus partir para a próxima cidade, ela procurará uma montanha mais alta.

para a chamar de pequena, para torná-la gigante.

segunda-feira, 12 de abril de 2010

no pescoço você encontra a essência,
no rio de janeiro agora tem chuva de granizo.



quase tudo pronto para a próxima aventura.

quinta-feira, 28 de maio de 2009

Como definí-la quando está desnuda
se ela é viagem
como toda nuvem?

Como desnudá-la quando está vestida
se está mais despida do que quando nua?

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posso caminhar com o pensamento,
eternamente dolorido, mas só um pouco.
caminhos traçados pelas vibrações,
trinta mil sonhos de seda, na minha cama de ouro.
uma piada, não por muito tempo,
respire fundo, a persistência precisa acertar.
e dizem "pare, vá devagar",
mas eu só posso andar pra lá.
levanto com sapatos de pedra,
faço o que preciso fazer.
estradas tensas de limitações de prazer.
eu faço certo ou somente erro o palpite.
palpitações,
viver.
encontre um lugar do meu lado,
um ponto ao lado dos que sentem o gosto.
agora,
tenho você.
quebre-me um pedaço pra levar para casa,
chupo seus beijos e arranco sua alma.

segunda-feira, 11 de maio de 2009

Stars

Ora (direis) ouvir estrelas!
Certo, perdeste o senso!
E eu vos direi, no entanto
Que, para ouví-las,
muitas vezes desperto
E abro as janelas, pálida de espanto

E conversamos toda a noite,
enquanto a Via-Láctea, como um pálio aberto,
Cintila.
E, ao vir do sol, saudoso e em pranto,
Inda as procuro pelo céu deserto.

Direis agora: "Tresloucada amiga!
Que conversas com elas?
Que sentido tem o que dizem,
quando estão contigo? "

E eu vos direi:
"Amai para entendê-las!
Pois só quem ama pode ter ouvido
Capaz de ouvir e e de entender estrelas"

sexta-feira, 20 de março de 2009

Provocação

Provoca meus instintos
mais secretos.
À luz do teu olhar,
me perco.
Vejo-me nua em meus pensamentos,
despida de qualquer pudor.
Sinto-me perdida em desejos íntimos.
Encontro-me em arcos
poderosos, que se fecham e me seguram,
e me abraçam.
Estremeço com seu toque
suave.
Grande volúpia!
Perfume embriagador me seduz.
Não resisto:
Eu me entrego e você
me conduz...ao paraíso...

quinta-feira, 19 de março de 2009

Sonho dos Anjos

Enquanto dormimos somos irreais,
Sonhamos com anjos tão enaltecidos
E nossos pesares ficam esquecidos...
Nos sonhos, aos anjos, nós somos iguais.

Sem saber que a nossa vida é nada mais
Do que doces sonhos, um tanto compridos
De anjos solitários já adormecidos,
Sonhando que existe a vida dos mortais.

E vivemos tristes sem saber jamais
Que as mortes são sonhos já interrompidos,
De anjos que acordaram com alguns ruídos
Nas belas manhãs celestes, divinais.

Ó, anjos cruéis, porque vós acordais?
Para dar um fim a humanos tão sofridos?
Sei que vossos sonhos são por nós vividos,
Vosso despertar nos é triste demais!

segunda-feira, 2 de março de 2009

Heimweh

Saudade do lar — assim definiu Novalis a Filosofia. Um impulso por se fazer por toda parte em casa — explicou em seguida. É isso: a filosofia exige um quê de estrangeiridade. De Aristóteles a Adorno, passando por Descartes, Spinoza, Hegel e tantos muitos outros, estamos é repleto de histórias de filósofos constrangidos pelos sotaques carregados de suas terras natais, ou obrigados a reencontrar a vida em uma nova cultura. A estrangeiridade da Filosofia não é apenas uma metáfora poderosa, é também um dado histórico, afinal.
Fazer-se em casa por toda parte, primitivo impulso de colonização, tornar o outro parte do mesmo, em uma idéia: dom(us)-esticar. Por essa razão Odisseu é o padroeiro de todos os filósofos, o mais eloqüente ícone disso que é ou foi a Filosofia. O impulso de ir além sendo norteado pela saudade da pátria. Um dia o viajante chega em casa, retorna à mesmidade, mas ele próprio já não é mais totalmente o mesmo, pois se alterou junto à alteridade que domesticou. Seu regresso torna a casa mais rica, repleta de experiências outras que coletou, que iluminam e alteram a mesmidade.
Em contexto totalmente diverso, Goethe disse substancialmente a mesma verdade: aquele que não conhece línguas estrangeiras, não conhece nem mesmo a própria língua. É isso: a estrangeiridade é a mediação necessária, o espelho negativo no qual Calvino disse que o viajante reconhecia o pouco que era seu descobrindo o muito que não tivera e que não teria.